Como em anterior post anunciei, realizou-se no passado sábado o encontro com o tema/título em epígrafe. Foi um encontro razoavelmente concorrido, ainda que com ausências notadas, onde para além das interessantes contribuições trazidas pelos oradores convidados houve debate de ideias entre/com os assistentes, com a excelente moderação de Graça Filipe (ao centro na foto), subdirectora do Instituto de Conservação e Museus. 
Em jeito de correcção a algumas referências, refira-se que a organização foi da responsabilidade da representação nacional do ICOM (especialmente do Dr. Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia) e da Câmara Municipal de Silves. Este que aqui escreve, colaborou.
Aqui vos deixo com as conclusões finais, que muito gostaria ver implementadas.
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Jornada de Reflexão e  Debate
Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês,  em Silves: que Futuro?
26 de Junho de  2010
Conclusões:
1 – É urgente assegurar a  classificação da Fábrica do Inglês nos termos do Decreto-lei nº 309/2009 de 23  de Outubro, tendo em vista garantir a protecção legal do seu património imóvel e  integrado. Esta classificação deveria pelo menos atingir o nível de “imóvel de  interesse público”. Neste sentido, os participantes nesta Jornada de Reflexão  apelam aos responsáveis da Administração Pública, local (Câmara Municipal de  Silves) e nacional (Direcção Regional de Cultura), para que exerçam as suas  competências neste domínio e mantenham a opinião pública informada sobre o  desenvolvimento do processo. Esta classificação, da justificação que tem em si  mesma, constituirá também uma mais-valia imprescindível para qualquer projecto  futuro a desenvolver no local.
2 – É urgente assegurar a manutenção dos espaços de  ar livre e o acesso ao núcleo museológico. A situação de encerramento actual da  Fábrica do Inglês traduzir-se-á no futuro em encargo  maior do que o da sua abertura, mesmo  que mínima. Qualquer que seja a evolução futura do regime de propriedade,  importa atalhar a degradação que se começa a fazer sentir. Neste sentido,  recomenda-se à Câmara Municipal de Silves que, na defesa dos interesses  patrimoniais em causa, desenvolva esforços para a celebração de um protocolo que  lhe permita executar as operações mínimas de manutenção e segurança do espaço.  Os custos desta manutenção devem ser considerados como investimento público no  local e ser tidos em devida conta aquando da discussão das soluções de futuro  que vierem a ser adoptadas.
3 – É recomendável proceder à  identificação das entidades e as formas de participação dos potenciais  intervenientes ou parceiros locais, nacionais e internacionais tendo em vista um  projecto de reabertura e de reprogramação do conjunto patrimonial em que se  integra o Museu da Cortiça – designado por Fábrica do  Inglês.
4 – É consensual a convicção de que o “modelo de  negócio” que esteve subjacente ao projecto inicial da Fábrica do Inglês está  ultrapassado. Embora generoso e baseado em motivações essencialmente  patrimonialistas, tratava-se de um modelo demasiado assente em actividades  comerciais, de restauração e de animação, que não somente estavam muito para  além da estrita valorização dos bens patrimoniais, como dependiam de variáveis  de mercado totalmente alheias ao controlo dos promotores do projecto. Importa,  pois, que a Fábrica do Inglês se centre de forma mais incisiva naquilo que deve  constituir  o  seu núcleo central, ou seja, na valorização dos  seus  patrimónios  e na projecção do Mundo da Cortiça. Neste sentido,  seria recomendável uma maior participação das entidades públicas locais no  capital social da futura estrutura gestionária do  espaço.
5 – É desejável continuar, e intensificar, as acções de sensibilização da opinião pública, em  primeiro lugar da comunidade local silvense, para o reconhecimento da  importância patrimonial do que está em causa e para a sua salvaguarda e  valorização, como recurso de desenvolvimento cultural e identitário local,  regional e até nacional. A Comissão Nacional Portuguesa do ICOM, pelo seu lado,  manter-se-á atenta ao evoluir da situação e desenvolverá os contactos  associativos que forem adequados à manutenção e reforço do movimento social em  defesa do Complexo da Fábrica do Inglês.
Silves, em 26 de Junho de  2010.
 
 
 
6 comentários:
é engraçado como há pessoas que, em pleno século XXI, confundem uma autarquia com uma santa casa da misericórdia ou uma IPSS qualquer...
E eu só acrescentaria: como é que ainda há pessoas, em pleno século XXI, que não sabem reconhecer uma reserva cultural desta dimensão, nem o que ela representa para a identidade deste concelho, bem como os deveres da autarquia na sua preservação? Como?
Eu explico-lhe Sr. Professor Manuel Ramos: a autarquia preserva o acervo de bens culturais exercendo o direito legal de preferência sobre os mesmos quando forem adjudicados em hasta pública! É esse o momento previsto na lei para a autarquia, no cumprimento de um dever - tutela de bens de interesse público cultural - resgatar o acervo das mãos dos privados para o património público! Como director do museu, pensei que já sabia disto há muito, é por isso que todas as soluções apresentadas me fazem muita confusão!!! É que fico com a sensação que, lá no fundo, o que querem é salvar o privado e não tanto os bens culturais... ou se preferirmos, estes são invocados como arma de arremesso para salvar o privado!!!
É claro que sei disso!
Não fico é à espera que estes cheguem a hasta pública. Primeiro ainda nem há insolvência; segundo, os bancos que detêm as hipotecas podem, caso queiram executá-las, não entender colocar em hasta pública; terceiro, e caso esta hasta pública ocorresse, embora coubesse direito de preferência à autarquia, não sabemos se podia ou queria; quarto, se ficarmos à espera de tudo isto, bem podemos depois dizer que naquele lugar havia um museu e um edifício histórico, já que o tempo e a degradação serão implacáveis para com o que lá está.
E,já agora: a sua solução passa pela compra da Fábrica do Inglês por parte da autarquia, o que não é exactamente o que eu penso ser o mais apropriado.
a única coisa que a Câmara Municipal poderia fazer, como solução de momento, era recolher o acervo de bens culturais do museu para os expor num outro museu a criar para o efeito! Com um protocolo isso sim, agora comprar a fábrica do inglês é para esquecer! Um bem hipotecado e na situação actual de crise, é para esquecer e você sabe bem disso! Temos de ser racionais e meter a política de lado! Exijo que não se engane o povo com conversas da treta!
Com todo o respeito, mas a conversa da treta não é minha. Sim, porque quem diz e depois desdiz é o senhor. Se não é para comprar porque é que sugeriu que a autarquia deveria entrar mais tarde em hasta pública?
E depois a sugestão que dá da deslocação do museu, é de quem não o conhece, já que é um museu de sítio, fábrica incluída (muitos dos equipamentos estão in situ)e o seu translado é a morte do mesmo. Recolher o acervo dos bens? Mas por acaso estes não têm proprietário (os accionistas), que aliás investiram fortemente na sua recuperação? Se é racional pensar assim?
Cá para mim, mais do que meter a política de lado, que para aqui ainda não foi chamada (pelo menos no que me diz respeito), eu acho é que alguns deviam simplesmente esquecer quem é e quem esteve na Administração da Fábrica do Inglês e olhar em frente, preservando aquilo que outros, de fora, e sem preconceitos, têm vindo a defender (vejam-se as conclusões do Encontro Internacional do Seixal dos dias 2 e 3 de Julho passado, sobre "Património cultural, a cortiça e os museus")
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