1.12.08

Pela Educação Pública em Portugal


Embora, e aparentemente, fora do habitual âmbito deste blogue, não quero deixar de aqui escrever sobre a actual situação que a Educação vive em Portugal. Porque sou professor, e porque a educação é também assunto local, por sinal dos mais importantes para o concelho de Silves.

Começo por dizer, sem qualquer intenção auto-promocional - mas tão-só para evidenciar quanto o problema da avaliação de desempenho não assusta os professores e é apenas uma das questões a que se opõem os docentes -, que sou professor titular, no topo da carreira (antigo 10º escalão), avaliador e que, ao contrário dos meus colegas, segundo este modelo do ME só serei avaliado pelo órgão de gestão e dessa avaliação não decorre consequência alguma para a minha progressão. Estou, por isso, muito à vontade para vos dizer que, ainda assim, estou totalmente contra o que este modelo propõe e à filosofia nele subjacente. O mesmo posso dizer de outros colegas que, ainda que não tendo atingido a nova idade legal de reforma, entenderam requerê-la com prejuízo do abono total da mesma, em completa desilusão pela escola actual. Só isso, a sangria desatada, e nunca antes vista, de experientes e competentes profissionais nos últimos tempos deveria fazer pensar o governo da República. Mas pouco lhe importa: os números, a redução do déficit (os novos professores são mais baratos que os mais antigos), falam mais alto.

Para além deste injusto modelo de avaliação, virado para a redução dos custos e para a melhoria artificial dos resultados escolares (ao ligar a nota do professor às classificações dos seus alunos e ao abandono escolar, como se isso fosse responsabilidade exclusivamente sua!) conforme ficou evidente nos últimos exames nacionais, os professores contestam a divisão da sua carreira em duas categorias, após um concurso por pontos que só teve em conta os seus últimos sete anos de carreira. Os professores contestam um Estatuto do Aluno que mais uma vez promove o facilitismo e penaliza o trabalho burocrático a favor dos mais displicentes, sem atender ao reforço da degradada autoridade docente; os professores contestam a cada vez maior precaridade imposta pelos concursos, que os coloca a centenas de quilómetros de casa durante anos a fio, sem qualquer compensação; os professores contestam uma inútil prova de ingresso na profissão após uma licenciatura especializada em ensino numa universidade cujo currícula é aprovado pelo governo; os professores contestam a arbitrariedade de durante mais de dois anos terem tido a sua carreira congelada e há muitos anos terem aumentos salariais inferiores à inflação; os professores contestam o facto de um licenciado admitido por uma qualquer Câmara Municipal auferir muito mais do que um professor, também licenciado, em início de carreira; enfim, muitas são as razões do descontentamento dos professores. Mas talvez a maior de todas seja mesmo a arrogância, a desfaçatez com que mentirosamente se intoxica a opinião pública contra a classe, a teimosia por detrás do "quero, posso, e mando" da ministra que tem assento na 5 de Outubro. Isso fez transbordar o copo da indignação docente. Isso pôs por duas vezes mais de 100 000 professores na rua.

Feito este primeiro e incompleto esclarecimento, mais em jeito de desabafo, queria deixar a informação de que os professores voltam à luta no dia 3 de Dezembro, com uma greve nacional que deverá também em Silves ser muito expressiva.

Os professores em greve nesse dia pretendem dirigir-se em marcha entre o Jardim Cancela de Abreu e a Câmara Municipal (passando pela Junta de Freguesia) onde deverão ser recebidos pelo Executivo que estará em reunião e ali apresentar um documento que dê conta ao Poder Local (e por interposta pessoa à comunidade local) das razões do seu descontentamento.

É uma forma de simbolicamente pedirem a compreensão para os motivos da sua indignação pessoal e profissional aos que a sua luta prejudica.
(clique na imagem para ampliar um dos comunicados que será distribuído à população)
P.S.- A notícia da prevista marcha já disponível no Barlavento-on line. E após a marcha, a notícia e as fotos da mesma, no mesmo jornal.

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